CADERNOS DE ARTISTA
O Silêncio Elementar
2024, 15min, MG

O Silêncio Elementar
O estado de Minas Gerais é um lugar cuja identidade, história e até mesmo topografia foram muito influenciadas pela indústria minerária. Através de uma abordagem pessoal, O Silêncio Elementar explora o legado da mineração no território onde nasci e onde vivo. Entrelaçando imagens documentais, imagens de arquivo e cenas ficcionais, o filme desafia a maneira como olhamos e pensamos sobre a paisagem.
Ficha técnica
Direção: Mariana de Melo
Produção: Daniela Cambraia, Mariana de Melo e Yasmin Guimarães
Produção Executiva: Daniela Cambraia, Mariana de Melo e Yasmin Guimarães
Direção de Fotografia: João Victor Borges e Rick Mello
Direção de Arte: Manoele Scortegagna
Som: Gustavo Fioravante e Montívia Rocha
Montagem/Edição: Mariana de Melo e Yasmin Guimarães
Elenco: Gabriela Gundim da Silva, Giovana Gundim da Silva, Raul Sandim, Rafael Torga e Izabela Bandeira de Melo.
Roteiro: Mariana de Melo e Yasmin Guimarães
Gerente de Festivais: Arapuá Filmes
Festivais, Mostras e Prêmios
53rd International Film Festival Rotterdam – IFFR 2024
14th Festival de Cine Verde de Barichara
7th Orvieto Cinema Fest
26th Muestra Internacional Documental de Bogotá – MIDBO
27th RIDM – Montreal International Documentary Festival Festival
26th Izmir Short Film Festival
8th Beijing International Short Film Festival
18th VILLA DE LEYVA INTERNATIONAL FILM FESTIVAL
19º Festival de cine Latinoamericano de La Plata – FESAALP
49th Laceno d’Oro Film Festival
4º Sinédoque – Festival nacional de documentários curtos – Prêmio do Público
8º CineBaru – Menção Honrosa
27th Icaro International Film Festival – Prêmio de Melhor Documentário
BIOGRAFIA DE ARTISTA

Mariana de Melo (1995), é produtora, diretora e pesquisadora de cinema mineira. Seu curta-metragem “O Silêncio Elementar” estreou no Festival Internacional de Cinema de Rotterdam de 2024 e está circulando entre festivais de cinema. A versão longa-metragem de “O Silêncio Elementar” será filmada em 2025. Seu projeto de longa-metragem de ficção, “O Recado do Fogo”, está em desenvolvimento e foi selecionado para Nuevas Miradas 2023 e Cine Qua Non Lab 2024. Mariana já trabalhou em mais de 20 longas-metragens e séries brasileira, incluindo filmes consagrados como o indicado ao Oscar 2020 “Democracia em Vertigem”, de Petra Costa. Mariana já participou de grandes eventos cinematográficos no Brasil e no mundo.
FILMOGRAFIA
O Silêncio Elementar – (2024, 15min)
O Som dos Metais – (2020, 3min)
PUBLICAÇÕES SOBRE A OBRA
O Silêncio Elementar
El silencio del hierro
DE LA PROMESSA A LA FÁBULA
por Bíbata Uribe
Publicação na página da
Muestra Internacional Documental de Bogotá (MIDBO)
Cineasta mineira leva filme sobre consequências da mineração a festival internacional
Curta-metragem foi exibido em Rotterdam, um dos maiores eventos de cinema da Europa
por Lucas Wilker
Publicação na página do Brasil de Fato

OBRA DE REFERÊNCIA
“Seams”, de Karim Ainouz
“Seams foi uma narrativa cinematográfica muito inusitada com a qual me deparei. O título, que significa “costuras”, reflete exatamente isso: cenas que, à primeira vista, parecem não ter muito a ver ou têm uma conexão tênue, mas que são unidas, “costuradas”, em uma narrativa que, no final, se mostra muito coesa. A mineração em Minas Gerais é uma história de 300 anos. O recorte que escolhemos para abordar no curta já é imenso: territórios, populações e informações em grande quantidade. Por isso, “Seams” me inspirou na liberdade de narrar, de fazer conexões que, no fim das contas, podem resultar em algo com uma potência poética muito grande.
Embora eu ache que esse filme seja muito mais pessoal do que o meu trabalho, há algo nas narrativas locais que acabam extrapolando para temas universais. Em Seams ele está falando das expressões e opressões de gênero. Em “O Silêncio Elementar”, estamos falando da mineração em algumas cidades de Minas Gerais, mas também do sistema de exploração capitalista-industrial.”
REFERÊNCIAS POÉTICAS
Minas – Ana Martins Marques – Poema
“Este é o poema que dá nome ao curta. Esse curta-metragem — e essa pesquisa — surgem de uma ideia de que os mineiros carregam uma melancolia em si, e que isso estaria relacionado à mineração. Embora pouca gente fale disso explicitamente — o que é compreensível, já que as ameaças das empresas mineradoras são reais e o silêncio sobre esse tema é muito presente —, encontrei muito material nesse sentido na poesia. Ana Martins Marques, com poucas palavras, consegue expressar esse lugar de “falta” que todos nós carregamos, acredito que toda a humanidade. Mas ela fala especificamente desses habitantes de Minas Gerais e relaciona essa falta com os metais do nosso solo. É uma articulação de tamanha potência que, sinceramente, vale mais a pena ler o poema do que qualquer outra coisa (risos).”
A MONTANHA PULVERIZADA
Menino Antigo (Boitempo-II), 1973
Chego à sacada e vejo a minha serra, a serra de meu pai e meu avô, de todos os Andrades que passaram e passarão, a serra que não passa.
Era coisa dos índios e a tomamos
para enfeitar e presidir a vida
neste vale soturno onde a riqueza
maior é sua vista e contemplá-la.
De longe nos revela o perfil grave.
A cada volta de caminho aponta uma forma
de ser, em ferro, eterna,
e sopra eternidade na fluência.
Esta manhã acordo e
não a encontro.
Britada em bilhões de lascas
deslizando em correia transportadora
entupindo 150 vagões
no trem-monstro de 5 locomotivas
— o trem maior do mundo, tomem nota —
foge minha serra, vai
deixando no meu corpo e na paisagem
mísero pó de ferro, e este não passa.
Minas
Ana Martins Marques
Se eu encostasse
meu ouvido
no seu peito
ouviria o tumulto
do mar
o alarido estridente
dos banhistas
cegos de sol
o baque
das ondas
quando despencam
na praia
Vem
escuta
no meu peito
o silêncio
elementar
dos metais
A Palavra Minas
Carlos Drummond de Andrade
Minas é uma palavra montanhosa.
Madu
Minas não é uma palavra montanhosa.
É palavra abissal. Minas é dentro
e fundo.
As montanhas escondem o que é Minas.
No alto mais celeste , subterrânea,
é galeria vertical varando o ferro
para chegar ninguém sabe onde.
Ninguém sabe Minas. A pedra
o buriti
a carranca
o nevoeiro
o raio
selam a verdade primeira, sepultada
sem eras geológicas de sonho.
Só os mineiros sabem. E não dizem
nem a si mesmos o irrevelável segredo
chamado Minas.
Imagem, Terra, Memória
Trecho
Sobre uma coleção de velhas fotografias de Brás Martins da Cos
I
Vejo sete cavaleiros
em suas selas e silhões.
As diferentes idades não
distinguem uns dos outros.
Os varões, as amazonas,
os meninos, seus corcéis
e suas mulas serenas
estacaram. Dentro em pouco
vai começar a viagem
no país do mato-fundo.
Eles sete nos convidam
a percorrer este mundo
miudinho dentro do mundo
e grande maior que o mundo
em cada lasca de ferro
cada barba
cada reza
cada enterro
mato-dentro.
Infatigável
Carlos Drummond de Andrade
O progresso não recua.
Já transformou esta rua
em buraco.
E o progresso continua.
Vai abrir neste buraco
outra rua.
Afinal, da nova ru
o progresso vai compor
outro buraco.
