CADERNOS DE ARTISTA
Palimpsesto
2024, 63min, MG


Palimpsesto
Em junho de 2020, a coleção arqueológica do Museu de História Natural da UFMG foi acometida por um incêndio. Diante do resgate deste acervo, trabalho e vestígios provocam uma reflexão sobre fogo e memória.
Ficha técnica
Direção: André Di Franco e Felipe Canêdo
Produção: André Di Franco, Samuel Quintero, Felipe Canêdo e Bárbara Ferreira
Produção Executiva: Samuel Quintero
Direção de Fotografia: André Di Franco
Direção de Arte: Alonso Pafyeze
Som: Maru Arturo dos Santos, Luiz Malta (Bola) e Felipe Canêdo
Montagem/Edição: André Di Franco e Felipe Canêdo
Personagens Reais Principais: Lara Passos, Andrei Isnardis e Mariana Cabral
Roteiro: André Di Franco, Felipe Canêdo e Lara Passos
Festivais, Mostras e Prêmios
57o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
BIOGRAFIA DE ARTISTA

André Di Franco (1994) é cineasta, programador e educador brasileiro. É antropólogo de formação e possui uma pós-graduação na Elías Querejeta Zine Eskola, pela qual recebeu o apoio do Projeto Paradiso, onde também integra sua rede de talentos.
FILMOGRAFIA
Desterro – (2020, 3min)
Palimpsesto – (2024, 63min)
BIOGRAFIA DE ARTISTA

Felipe Canêdo (1988) é diretor e roteirista, de Belo Horizonte. Realizou diversos curtas-metragens, como O Bailarino (2015), que recebeu prêmio de melhor filme no Festival Internacional de Braga e Arara (2017), premiado pela OAB-RS e pelo Ficca. É mestre em audiovisual pela Universidade do Minho e foi repórter do jornal Estado de Minas. Em 2024 lançou seu primeiro romance, Monstera Deliciosa, pela Urutau, o média Amadeu e o longa Palimpsesto. É também pai de primeira viagem da Lia.
FILMOGRAFIA
Amadeu – (2022, 52min)
Um de vermelho e um de amarelo – (2020, 14min)
Arara: um filme sobre um filme sobrevivente – (2017, 13min)
Esta Noite Vi Dois Marcianos de Smoking – (2016,14 min)
O Bailarino – (2015, 13min)
SOBRE O FILME
Palimpsesto é um filme que, como o próprio título diz, foi se escrevendo e reescrevendo-se durante os quatro anos que trabalhamos nele. Através de vários impulsos, diante de materiais de origens muito variadas, o trabalho de escrita do filme foi, em suma, o trabalho de aprender a lidar com o trágico incêndio do Museu de História Natural da UFMG.
Em 2020, fomos convidados para registrar o resgate da coleção arqueológica atingida pelo fogo. Entre a melancolia da perda e o esforço de filmar e tentar recuperar algo, começamos então a buscar formas e materiais que nos ajudassem a nos aproximar daquilo com que nos deparamos.
Os poemas e colagens de Lara Passos, personagem e co-roteirista do filme, de alguma forma abarcam e ilustram essa busca:
REGISTROS
Entender o que registramos certamente foi a parte mais complicada da escrita do filme. Buscar no precário material feito de forma urgente suas intenções, seus desejos e seus pontos de partida. Nós, Lara, Felipe e André, passamos meses vendo e revendo nossas imagens, refletindo sobre os dispositivos, até encontrarmos no ensaio uma saída.
Conhecer a origem daqueles artefatos, das pessoas destruídas pelo incêndio, parecia imprescindível. Ademais, se aproximar de Sueli, uma das mais interessantes pessoas que conhecemos, tanto no filme como na vida, pareceu ser um respiro, um novo fôlego para encontrar algum sentido, alguma saída diante da destruição.
Sueli Eterna, como é conhecida, foi nossa guia e anfitriã em Itacarambi, no Norte de Minas, onde mora há 30 anos, e nos levou para a praia do Rio São Francisco em Januária. Ela certamente nos fez enxergar como são monumentais as lapas, cavernas e paredões de pinturas rupestres do Parque Nacional das Cavernas do Peruaçu.
A seguir, algumas fotos da visita de Felipe e do produtor Samuel Quintero ao Peruaçu, de onde boa parte do acervo incendiado provém:
DESCOBERTA

Esse trabalho de descoberta do filme, de escrita, foi realizado também no encontro com a montagem, com a experimentação. Misturar materiais, se afetar por filmes centrais para a gente, como The Tree House (Truong Minh Quy, 2019) e Prüfstand 7 (Robert Bramkamp, 2021), foi imprescindível. Enquanto a vida se desenrolava, no frio as imagens se juntavam na sala de edição.

CONVITE
Esse primeiro contato com o material, uma primeira experiência com a escrita do filme, nos levou a imaginar outras imagens, outros encontros. Não por acaso, dois anos depois, nos reunimos novamente no museu, como se vê numa das sequências finais do filme.
A seguir, o convite que enviamos para os participantes do resgate:
Convite para encontro 2 anos depois do filme
Queridxs amigxs,
Há pouco mais de dois anos e meio, nos encontrávamos (ou nos conhecíamos) no Museu, neste árduo e difícil trabalho de se envolver com uma coleção queimada, com a precariedade e a memória.
Em geral, depois deste intenso momento, continuamos com nossas vidas, nossos afazeres cotidianos, lentamente retornando a vida pós pandemia. Os destroços, o cheiro de queimado, todavia, permaneceram, como também insiste em permanecer em nosso entorno o espírito de união, as amizades, o carinho e o comprometimento que compartilhou-se ali.
Depois de todo esse tempo, gostaríamos então de propor um encontro de todos envolvidos nesse resgate como maneira de compreender esse momento, a forma como ele se dissolveu em nós, os afetos e as questões que perduram. Uma possibilidade de nos vermos, mas também de vermos aquilo que restou.
A ideia, portanto, é que basicamente possamos sentar, conversar, bem como partilhar afetos e reflexões. A sugestão é que esse encontro se dê, no dia XXX, às XXX, no anfiteatro do Museu, um espaço em que podemos, além de estar confortáveis, compartilhar imagens e outros arquivos.
Como dispositivo dessa dinâmica, gostaríamos de propor que cada pessoa traga consigo algum objeto, coisa, artefato, vídeo, imagem ou lembrança que possa disparar seus afetos e reflexões sobre o momento do incêndio, dando abertura para a discussão.
Ademais, como vários já estão cientes, durante esse tempo seguimos realizando o filme em torno do resgate do museu e, dentro deste contexto, planejamos captar algumas cenas e sequências durante essa atividade. Nesse sentido, de antemão gostaríamos de pedir a paciência de vocês caso apareça qualquer demanda ou questão da equipe de filmagem.
Pedimos que, por favor, nos confirme com antecedência a sua participação.
Com carinho,
André, Lara e Lipe.
OBRA CONVIDADA
The Ancient Child Who’s Changing Archaeology
2024, 37min
de Mariana Petry Cabral
Justificativa
Decidimos convidar o podcast de Mariana, uma das personagens do filme e uma das coordenadoras do resgate do incêndio no museu. Tal podcast, por meio de uma sensível e potente reflexão, encontra no trabalho de Bibi, arqueóloga indígena que estuda um dos sepultamentos sobreviventes ao incêndio, chaves fundamentais para refletirmos sobre nossas formas de lidar com as coisas e a memória.
O trabalho de Mariana Cabral, personagem e uma das coordenadoras do resgate do incêndio, junto a arqueóloga indígena Bibi Nhatarâmiak Borum-Kren é um convite para imaginarmos outras formas de se relacionar com as coisas, com a arqueologia e com a tragédia do Museu de História Natural da UFMG.
Sinopse
Os museus e a arqueologia podem prejudicar os mortos?
Uma arqueóloga indígena do Brasil desafia as abordagens tradicionais de estudo de ossos humanos. Seu trabalho revela como as práticas padrão – como a atribuição de números de catálogo a corpos antigos – são violentas e tendenciosas. Quando ela encontra os restos mortais de uma criança de 700 anos em um museu universitário, suas histórias se entrelaçam, destacando questões de ética, colonialidade e apagamento étnico. Esse encontro provoca uma discussão sobre como a arqueologia e os museus podem lidar com as feridas históricas e combater o silenciamento das histórias indígenas.
