Tupananchiskama
2023, 07min, GO

Tupananchiskama
Dizer “adeus” marca um fim, uma impossibilidade diante da continuação, uma ruptura do devir. Em quéchua, “tupanachiskama” nutre o desejo da permanência da comunhão com o outro e do compartilhar até que a vida volte a nos encontrar. Notas imagéticas ensaísticas se constroem diante de experiências de viagem entre o Peru e o Brasil. Uma reflexão sobre a despedida como uma imposição diante da impermanência das coisas do mundo, enquanto sempre se deseja a possibilidade de um novo encontro.
Ficha técnica
Direção: Rafael de Almeida
Direção de Fotografia: Rafael de Almeida
Montagem/Edição: Rafael de Almeida
Personagens Reais Principais :Indalecio Baez, Gonzalo Curto, Alice Martins e J. Bamberg
Festivais, Mostras e Prêmios
10º Super Off – Festival Internacional de Cinema Super 8 – Melhor filme Tomada Única Independente
14ª Mostra Strangloscope
19º Festival Internacional de Cinema Super 8 de Curitiba – Curta 8 – Super Filme
IV Jornada de Estudos do Documentário
2º Festival de Cinema de Serra da Raiz
Sarancine 2024 – Festival de Cinema Ambiental de Sarandira
BIOGRAFIA DE ARTISTA

Rafael de Almeida (1987) é cineasta e artista visual. Nasceu em 1987, em Goiânia, onde vive e trabalha. Doutor em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, com estágio de doutorado pela Universidad Complutense de Madrid e pós-doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual da Universidade Federal de Goiás – UFG. É professor do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás – UEG.
Atua como curador no Goiânia Mostra Curtas e no Pirenópolis Doc – Festival de Documentário Brasileiro. É membro da Comissão de Seleção do Icumam Lab. Dirigiu alguns filmes de curta-metragem, entre os quais: “Tupananchiskama”, “Arrorró”, “Ainda ontem”, “Wide awake”, “Para não esquecer”, “Carrossel”, “A saudade é um filme sem fim” e “Impej”. Foi tutor de laboratório de roteiro para projetos documentais no FAVERA – Festival Audiovisual Vera Cruz e no FICA – Festival Internacional de Cinema Ambiental. Tem experiência como diretor, montador, consultor criativo e curador. Atua no cruzamento entre o cinema e as artes visuais, valendo-se do princípio da montagem e da colagem como uma das principais maneiras para pensar a visualidade das suas obras. Assim, o filme, o vídeo, a fotografia e a instalação possuem papel central em sua produção. Seus interesses artísticos e científicos estão centrados hoje nos diálogos entre o cinema documentário, as práticas ensaísticas, as narrativas autobiográficas, os procedimentos fabulatórios e o reemprego de materiais de arquivo.
Sua obra foi apresentada em festivais de cinema e salões de arte no Brasil e no exterior, com passagens pelo Salão Anapolino de Arte (2022), Bienal do Sertão de Artes Visuais (2023), Salão de Arte Contemporânea Luiz Sacilotto (2024) e Salão de Arte de Ribeirão Preto Nacional-Contemporâneo – SARP (2024). Além disso, recebeu o prêmio aquisição tanto do Salão de Arte em Pequenos Formatos do Museu de Arte de Britânia (2022) quanto do Salão de Arte Contemporânea de Jataí (2023). Seu trabalho integra o acervo do Museu de Arte de Britânia (GO), do Museu da Imagem e do Som de Goiás (MIS – GO), do Museu de Arte de Santa Maria (RS) e do Museu de Arte Contemporânea de Jataí (GO).
FILMOGRAFIA
PELA METADE (2006, 5 min)
IMPEJ (2007, 10 min)
A SAUDADE É UM FILME SEM FIM (2009, 3 min)
ESTELA (2011, 3 min)
TALVEZ SEJA O VAZIO (2011, 8 min)
AZUL COR DE TERRA (2011, 5 min)
CARROSSEL (2013, 3 min)
PARA NÃO ESQUECER (2016, 9 min)
WIDE AWAKE (2018, 7 min)
AINDA ONTEM (2020, 17 min)
ARRORRÓ (2022, 9 min)
ABOIO (2022, 1 min 30 s)
RETRATO DAS ESTRELAS QUANDO SONHAM (2023, 23 min)
TUPANANCHISKAMA (2023, 7 min 20s)
COMENTÁRIO DO DIRETOR
CRÍTICAS
Texto do curador Divino Sobral para o catálogo do 3º Salão de Arte em Pequenos Formatos do Museu de Arte de Britânia – Goiás. 2022.
O trabalho de Rafael de Almeida conduz nosso olhar ao interior goiano, à cultura sertaneja enraizada nas heranças rurais, na economia fundada na pecuária e na agricultura, nas festas populares presentes na memória e na vida do povo goiano. As imagens do vídeo são refilmadas; captadas de uma tela elas adquirem aparência filtrada, com um brilho discreto de interessante efeito visual, que faz o passado ser atualizado pela transferência de uma mídia a outra, pela textura pixelizada do presente. Não há narrativa e sim rápida colagem de imagens que amarra fragmentos de dois filmes: uma peça publicitária que destaca o vigoroso touro no corredor de entrada da arena de rodeio, seguido do peão forte e viril a domá-lo; um registro amador, filmado no antigo sistema VHS, do baile realizado no Rancho das Cavalhadas, em Pirenópolis, durante a Festa do Divino de 1988. Ambas as imagens tratam de um Goiás profundo, que celebra ao mesmo tempo o sagrado e o profano enquanto o velho coronelismo permanece como modelo inalterável.


Texto do curador Paulo Henrique Silva para o catálogo do 26º Salão
Anapolino de Arte – Goiás. 2022.
No 26º Salão Anapolino de Arte, Rafael de Almeida apresenta “Aboio” e “Saída da boiada”, trabalho que pretende discutir questões como a indissociabilidade entre o sagrado e o profano, o coronelismo, a atualização da política do pão e circo junto a comunidades carentes e a violência simbólica alienante imposta às camadas mais pobres da população do interior do Brasil diante da falta de acesso aos meios de produção. Instigado pelo encontro com um registro em vídeo de 1988, do Rancho das Cavalhadas de Pirenópolis, o artista parte em uma jornada à procura das camadas de sentido camufladas nas imagens dessa festa profana e popular que ocorre às margens da Festa do Divino Espírito Santo e das Cavalhadas de Pirenópolis.
NA MÍDIA
Quais os impactos da inteligência artificial na criação artística?
Cada vez mais avançada e onipresente, a IA traz discussões éticas, oportunidades de negócio e quebra de paradigmas no campo da criação.
Por Rogério Borges
Leia a publicação em O Popular.
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#39 conversas de cinema com Rafael Almeida

BÔNUS
OBRAS DE REFERÊNCIA
Casa (série); Floresta (série); Reahu (série) e Retratos (série)
Fotografia
de Cláudia Andujar
Justificativa
A obra de Claudia Andujar foi uma referência essencial para o meu filme “Tupananchiskama”, especialmente pelo diálogo entre a estética e a denúncia social presente em séries como Casa, Floresta, Reahu e Retratos. A maneira como Andujar explora a relação entre indivíduo, território e espiritualidade, ao mesmo tempo em que questiona o olhar colonial e evidencia o protagonismo indígena, inspirou a construção narrativa e visual do filme. Em “Tupananchiskama”, busco, assim como Andujar, criar imagens que transcendem o mero registro, promovendo uma conexão sensorial e ética com os personagens e o espaço que habitam. O uso da luz, texturas e a interseção entre memória e fabulação crítica em minha obra são diretamente influenciados por sua abordagem, que transforma a fotografia em um ato de resistência e empatia.
Arturos (série)
Fotografia
de Eustáquio Neves
Justificativa
A Série Arturos, de Eustáquio Neves, foi uma inspiração vital para o meu filme “Tupananchiskama”, especialmente por seu diálogo com a memória, identidade e permanência. Neves, em seu trabalho, transforma a fotografia em um espaço de resistência e devir, onde o registro visual ultrapassa o mero documental e se torna fabulação e poesia. Em “Tupananchiskama”, essa influência se reflete na construção de notas imagéticas ensaísticas que exploram a despedida e o desejo de reencontro, alinhando-se à perspectiva quéchua de conexão e continuidade. Assim como Neves ressignifica memórias afro-brasileiras ao valorizar a ancestralidade e os vínculos comunitários, meu filme busca dialogar com a impermanência das coisas do mundo, evocando a possibilidade de um novo encontro entre culturas, tempos e espaços. A estética experimental de Neves, aliada à sua sensibilidade política, ajudou a moldar o compromisso ético e visual que permeia este trabalho.
The eyeland
Vídeo
de Cao Guimarães
Justificativa
A obra The Eyeland, de Cao Guimarães, foi uma referência fundamental para o desenvolvimento do meu filme Tupananchiskama, pois compartilha a exploração da percepção e da viagem enquanto expressão de uma jornada introspectiva e sensorial. Assim como Guimarães utiliza a imagem para desestabilizar a visão convencional e desafiar as fronteiras do espaço e do tempo, em Tupananchiskama a viagem entre o Peru e o Brasil se torna um meio de reflexão sobre a impermanência e a possibilidade de reencontros. A proposta de The Eyeland de investigar o olhar e a experiência visual como uma jornada sem fim dialoga com a busca do “tupananchiskama”, a despedida que, ao mesmo tempo, sustenta a esperança de continuidade e de novo encontro. A construção imagética do filme se inspira nessa abordagem poética e fragmentada, onde a travessia não é apenas física, mas uma vivência compartilhada e permeada pela memória e pelo desejo de permanência.
OBRA CONVIDADA
Aqui onde tudo acaba
2023, 19min
de Duo Strangloscope
Justificativa
A obra “Aqui Onde Tudo Acaba”, do Duo Strangloscope, é essencial para compor o universo criativo de “Tupananchiskama” devido à sua abordagem poética sobre memória, cultura e impermanência. Assim, como meu filme reflete sobre a despedida como uma imposição diante da impermanência das coisas do mundo, a obra do Duo Strangloscope explora a memória das origens, evocando um desejo de reconexão e continuidade. A interação entre temporalidades, os recursos experimentais de revelação botânica e a evocação de narrativas sensoriais em “Aqui Onde Tudo Acaba” dialogam diretamente com a construção imagética e ensaística de “Tupananchiskama”. Ambas as obras investigam a despedida e a perda como um ponto de partida para revisitar e ressignificar histórias, paisagens e encontros, reafirmando a possibilidade de novos laços e de um “reencontro” com o que parece perdido.
Sinopse
Aqui onde tudo acaba é um curta-metragem experimental, poético que transita entre o documentário e a ficção para abordar uma cultura em extinção, a dos indígenas no Brasil. Trata-se, de modo particular, de uma partilha de saberes realizada na Aldeia Bugio, em todos os estágios de filmagens em 16mm, revelação botânica e captação sonora de modo coletivo. Busca reativar a memória das origens do povo Laklãnõ/Xokleng observando o que se perde com a alienação dos saberes e aculturação praticadas pelo colonialismo.
CADERNOS DE ARTISTA
