CADERNOS DE ARTISTA

A mão que toca o braço
2022, 13 min, Brasil/EUA

A mão que toca o braço

Como as convenções formais do cinema clássico hollywoodiano ajudaram a reforçar papeis de gênero? Examinando interações entre homens e mulheres em filmes norte-americanos produzidos entre 1930 e o início dos anos 1960, A mão que toca o braço desnaturaliza gestos que muitas vezes passam despercebidos. Ao fazê-lo, o filme revela uma perturbadora onipresença do toque.
Ficha técnica

Direção: Calac Nogueira
Montagem: Calac Nogueira
Roteiro: Calac Nogueira

Festivais, Mostras e Prêmios

FENDA – Festival Experimental de Artes Fílmicas 2023 (Belo Horizonte)

26th Ji.hlava International Documentary Film Festival (República Tcheca)

BIOGRAFIA DE ARTISTA

Calac Nogueira (1987) é pesquisador, curador e cineasta. Atualmente vive em Seattle, onde realiza doutorado em cinema. Foi curador da mostra Lumière cineasta (CCBB, 2020) e é programador do Travessias Brazilian Film Festival (Northwest Film Forum, Seattle). “A mão que toca o braço” é sua primeira obra de found footage.

FILMOGRAFIA

CINEFILIA (2016, 22 min.)
OS INVASORES (2013, 15 min.)
O BORRÃO (2009, 7 min.)

MEMORIAL DESCRITIVO

O Picolino (Top Hat, 1935), de Mark Sandrich

A ideia de realizar A mão que toca o braço veio deste plano de Top Hat (1935). Na cena, Ginger Rogers se dirige a uma carruagem estacionada do lado de fora de seu hotel. Quando ela está prestes a subir no veículo, o porteiro do hotel se aproxima e levemente toca-lhe o braço. Esse toque me causou um estranhamento. O que chamava atenção era a ausência de sentido prático do gesto, pois ele de maneira nenhuma ajudava Ginger Roger a Subir no veículo. O sentido do gesto era puramente cênico: demonstrar prontidão e diligência da parte do porteiro, dando coesão e naturalidade à cena.

Após esse dia, passei a observar o toque em muitos filmes, em especial aqueles produzidos em Hollywood entre os anos 1930 e 1950. Rapidamente ficou claro que, mais do que uma ocorrência pontual ou isolada, o gesto fazia parte de um sistema de representação maior, que transcendia filmes particulares ou o trabalho de diretores específicos. Trata-se de uma convenção de mise en scène de um certo período do cinema. Tal convenção, no entanto, expressa e reforça papéis de gênero.

O filme explora essa sobreposição entre convenções formais e convenções de gênero no cinema.

OBRAS DE REFERÊNCIA

Der Ausdruck der Hände (1997), de Harun Farocki

Justificativa:

“Farocki explora a infinidade de sentidos e mistérios das mãos e seus gestos.”

Assista Der Ausdruck der Hände na MUBI

Passage à l’acte (1993), de Martin Arnold

Justificativa:

“Repetição maníaca e liberação das energias latentes em uma cena familiar”

Assista Passage à l’acte na MUBI