CADERNOS DE ARTISTA
Afluente
2025, 30min,CE|RJ


Afluente
Afluente é um ensaio fílmico que examina o processo de “redução” do rio São Francisco à eletricidade. Através de arquivos de imagens de meados do século XX e filmagens do século XXI, diferentes modulações da imagem do rio são apresentadas, prevalecendo aquelas nas quais o rio é visto como recurso. Essa visão, porém, não é a única possível, como evidenciam a emergência de vozes capazes de criar outras temporalidades e escutas de seu entorno, assim como a remontagem do próprio arquivo fílmico.
Ficha técnica
Direção: Frederico Benevides
Produção: Frederico Benevides
Produção Executiva: Frederico Benevides
Direção de Fotografia: Frederico Benevides
Som direto: Frederico Benevides
Edição de Som: Letícia Belo
Mixagem: Lucas Coelho
Montagem / Edição: Frederico Benevides Elenco: Rafaela Diógenes, Flávio Motta, Kraunã Toá, Tiuaká Toá e Sinézio Personagens Reais Principais (que interpretam eles mesmos): Flávio Motta, Kraunã Toá, Tiuaká Toá e Sinézio
Roteiro: Frederico Benevides
BIOGRAFIA DE ARTISTA
Frederico Benevides é pesquisador, diretor e montador de cinema, cujos trabalhos foram apresentados em festivais dentro e fora do Brasil. Doutor em Artes Visuais pelo PPGAV/EBA – UFRJ e mestre em Política, Imagem e Análise de Som pela UFF, onde também lecionou edição e som. Foi assistente da cineasta Agnès Varda durante sua passagem por Fortaleza, quando ministrou conferência e estreou seu filme As praias de Agnès. Participou da instalação avinda da oficina Labour in a Single Shot, de Harun Farocki e Antje Hemman com cinco curta-metragens. Seus trabalhos autorais incluem curta-metragens e vídeo-instalações exibidos em festivais de cinema e exposições dentro e fora do Brasil, como Revolver (filme de encerramento do FIDOCS 2019), 26 Postais para Dica (Menção honrosa no Festival 1666), Viventes (Berlinale, 2015), Entretempos (International Short Film Festival Oberhausen 2016). Sua filmografia como diretor inclui ainda, entre outros, Quando o meu mundo era mais mundo (2025), Batguano Returns: Roben na Estrada (2025, com Tavinho Teixeira), Afluente (2025), Performatividades do Segundo Plano (2016, com Yuri Firmeza), Visita ao Filho (2013), As Corujas (2009). Ao longo dos últimos vinte anos, Benevides trabalhou com cineastas como Adirley Queirós, Tavinho Teixeira, Yuri Firmeza, Eduardo Morotó, Janaína Marques, Adriana Botelho, Ricardo Alves Jr., Marcelo Caetano e Camila Freitas. A partir de 2019 iniciou uma série de ensaios fílmicos em colaboração com pensadores como Georges Didi-Huberman e Déborah Danowski. Alguns de seus projetos, realizados em parceria com Lucas Coelho e Alexandre Veras, estão disponíveis em www.atelierural.com.br.
FILMOGRAFIA
Quando o meu mundo era mais mundo (2025)
Batguano Returns: Roben na Estrada (2025, com Tavinho Teixeira)
Afluente (2025)
Performatividades do Segundo Plano (2016, com Yuri Firmeza)
Visita ao Filho (2013)
As Corujas (2009)
Revolver (2019, filme de encerramento do FIDOCS)
26 Postais para Dica (Menção honrosa no Festival 1666)
Viventes (Berlinale, 2015)
Entretempos (International Short Film Festival Oberhausen, 2016)
Filme-Ensaio e Pesquisa
Sobre o Filme
Afluente é um filme-ensaio que explora a conexão entre uma etnografia realizada no Rio São Francisco (2018-2024) e dois acervos imagéticos históricos. O projeto busca revisitar e reinterpretar o processo de eletrificação das águas, especialmente na região do baixo São Francisco. O filme atravessa diferentes épocas, utilizando imagens e filmagens de acervos e registros contemporâneos para criar anacronismos, questionando a relação da sociedade com seu entorno em tempos de crise climática.
Acervos Utilizados
- Acervo CHESF: Composto por 16.000 fotografias em negativo e 300 fotografias em vidro, pertencente à Companhia Hidrelétrica do Vale do São Francisco.
- Acervo Isaac Rozemberg: Guardado por Reizi Rozemberg, criado pelo produtor de cinejornais Isaac Rozemberg, que filmou cinejornais, documentários e institucionais no Brasil entre as décadas de 1940 e 1980.
Imagens e Técnica
O filme é composto por fotografias, trechos de cinejornais em 35mm, filmagens contemporâneas em 16mm com a câmera Bell & Howell modelo Filmo 70, filmagens em Super 8mm, imagens digitais capturadas por celular, câmeras semi-profissionais e drone.
Processo e Investigação
Através da pesquisa desses acervos e filmagens contemporâneas, o projeto cria um diálogo entre o passado e o presente, oferecendo novas leituras sobre o impacto da eletrificação das águas e seus efeitos socioambientais. A obra também explora a crise climática e propõe uma reflexão sobre as relações atuais da sociedade com o seu ambiente.
Personagens e Colaboradores
O projeto conta com a colaboração de ribeirinhos, como Kraunã e Tiúaká Toá e Sinézio, além de engenheiros como Flávio Motta e Rafael Parente. Eles foram essenciais para a criação de questionamentos e abertura de portas para a compreensão do rio como uma “grande lente” que revela o estado das coisas em tempos de crise.
Narração e Trilha Sonora
- Narração: A atriz e realizadora Rafaela Diógenes, natural de Fortaleza e atualmente residente em Barcelona. Mais sobre Rafaela Diógenes aqui.
- Trilha Sonora: Composta por Mateus Alves, de Recife, cuja obra pode ser acessada aqui. Veja uma entrevista sobre seu processo aqui.
Pesquisa Acadêmica
Afluente faz parte da pesquisa de doutorado de Frederico Benevides, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (PPGAV) da Escola de Belas Artes (EBA) da UFRJ, com interlocução com instituições internacionais como o Film Studies Center (FSC) da Harvard University e o Center for Comparative Media (CCM) da Columbia University. Durante o doutorado, Benevides trabalhou na interseção entre teoria e prática, resultando em um filme e outros objetos artísticos.
Outros Objetos Artísticos
Além do filme, existem outros projetos artísticos em diferentes estágios de desenvolvimento. O texto da pesquisa completa pode ser acessado aqui.
Recursos adicionais
- Acervo Isaac Rozemberg: Alguns dos filmes de Isaac Rozemberg estão disponíveis aqui no YouTube.
- Instagram de Kraunã e Tiúaká Toá: @espaco_ecologico_toa
- Instagram de Sinézio: @quiosque_flor_do_mandacaru_
TESE
OBRA CONVIDADA
"CHAMA TERRA, TERRA CHAMA" ( Raquel Versieux e Roberto Freitas, 2023)
A comunidade camponesa “Caldeirão da Santa Cruz do Deserto” chegou a abrigar 5 mil pessoas em autossuficiência e soberania alimentar, na cidade do Crato, Brasil. Foi violentamente massacrada por forças militares do Estado brasileiro, em 1937. Esse evento segue muito pouco esclarecido na história nacional e sua memória é o cordão que entrelaça vozes de mulheres em perspectiva, vivendo na e com a terra, nesta região. Dona Ana, integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e Silvanete Lermen, benzedeira e agricultora cultivando 10 hectares de agrofloresta no semiárido tecem um filme sobre mulheres, fé, conflitos de terra, água, corpos, poesia, saberes, memórias e coletividades possíveis. Ouve a terra que nos chama?
JUSTIFICATIVA
acredito que Afluente tem uma série de pontos de contato com chama terra terra chama. penso que ambos podem ser considerados ensaios fílmicos, na medida em que se utilizam do meio filme para, formalmente, deixar o pensamento fluir em operações imageantes (para pensar com Marie-Jose Mondzain). ambos também ensejam relacionar ordens de grandezas disparatadas: o rio, a terra e os indivíduos que constituíram ao longo de uma vida a escuta desses territórios. pra isso é fundamental o exercício de temporalidades distintas. e temporalidade pensada não como uma determinação do tempo, mas di espaço: mudam-se as coisas do lugar e logo surgem outras temporalidades, maneiras de experimentar as sensações e o próprio tempo. por último, pude ver chama terra terra chama em processo e conversar sobre o filme ainda aberto, assim como pude contar com as observações atentas da dupla numa etapa de concretização de afluente.


Minibio das pessoas autoras:
Raquel Versieux (Belo Horizonte, 1984), é artista visual, pesquisadora e educadora. Doutora e Mestra em Linguagens Visuais pelo PPGAV EBA UFRJ (2023; 2014). Possui licenciatura em Desenho pela UFMG (2011) e estudou nesta mesma instituição graduação em Ciências Sociais (2003-2006, incompleta). De 2016 a 2019 atuou ativamente como professora assistente no Centro de Artes da Universidade Regional do Cariri (atualmente afastada). Sua pesquisa se concentra em uma atualização política e decolonial do conceito de paisagem. Realizou entre 2019 e 2023 o projeto de arte de base comunitária “Manejo Movente”, na área rural de Crato, Ceará, Brasil. Atualmente residindo em Bruxelas, concluiu recentemente residência de pesquisa pos-doc na Luca School of Arts, Bélgica, sob o tema “pessoas humanas, mais que humanas e até mesmo desumanizadas”.
Roberto Freitas é artista, nascido em 1977 na cidade de Buenos Aires vive e trabalha em Bruxelas. Em sua trajetória artística, produz trabalhos que flertam livremente com cinema, dança, música, escultura, performance, desenho e pintura, com foco na instalação. É bacharel em artes plásticas e mestre em teoria da arte pela UDESC, tendo realizado residências no Kontakt (Bruxelas 2022/23), Residência Circunvizinhanças (2019, ESPAI, Belo Horizonte), Redbull station (SP 2014), Ja.Ca. (Belo Horizonte, 2013), Bienal Sesc de dança (Santos 2013), Odin treatet (Dinamarca, 2011), entre outras. Realizou apresentações musicais em locais notáveis, como no Teatro Marília (2019, BH), na inauguração do SESC Avenida Paulista (SP, 2018) e no Conservatório Mineiro (BH, 2015), além de dezenas de outros lugares, muitas vezes em parceria com o Grivo. Fez performances na Bienal Sesc de Dança (Campinas 2015), no Pivo (2014, Edifício Copan, SP), na sede do Odin Teatret (Dinamarca 2009) e em muitos festivais de dança e teatro, como o Cervantino (2011, Guanajuato, MX). No campo das exposições individuais, destacam-se “Under watchful eyes, a sound pounds or what to expect from a small flame in the midst of the dark winter.” (2023, GC Kontakt, Bruxelas, Bélgica), “Desejo de Preto ou Como desafinar o coro dos contentes” (2018, Dotart, BH), Sonar (2017, Galeria da Funarte BH), “Hiato velado ou Poema no meio” (2016, Dotart, BH), Três (2013, SESC Pompeia), entre outras. No mundo das mostras coletivas são muitas como “Two Sundays Two Mouths A House” (2021, Rep. of Korea), “Como uma quilha corta as ondas” (2018, Casa Azeitona, BH), “Às vezes é melhor fazer uma sopa” (2016, Saracura, RJ), Brasil Arbeit Und Freund Schaft. (2014, Pivo, Ed. Copan -SP), entre dezenas de outras. Ganhou três vezes o Rumos Itau Cultural (2009, 2016, 2020), o Prêmio Funarte Conexões Artes Visuais (2015), Prêmio Elisabete Anderle de artes visuais (2015, SC), Prêmio Dans (2007, Bologna, Itália), Prêmio Iberescena em parceria com o Cena11 (2011, America Latina), entre outros.
