CADERNOS DE ARTISTA

O lugar por onde a água corre
2024, 12min, RS

O lugar por onde a água corre

Muitos rios resistem e nos convidam a reaprender a conviver com eles. Como coexistir com seres-rios? Como cultivar hábitos e gestos de des-separação, de cuidado e regeneração? “o lugar por onde a água corre” incorpora o fazer-com de pesquisadores e artistas colaboradores em um processo de composição de um filme experimental acompanhado de publicação sob a perspectiva das águas de um rio. Esta proposta de transposição, em imagens e sons, de experiências como habitantes/habitados pelo lugar – corpolugar, inicia sua germinação a partir de nossa mudança, em 2014, para um conjunto arquitetônico formado por um moinho d’água de arquitetura enxaimel em ruínas, construído por volta de 1855, contíguo a uma casa de alvenaria na localidade da Picada da Capivara, hoje Lindolfo Collor, RS. Um ecossistema de três hectares às margens do Arroio Serraria, que nos desperta a experiência e a responsabilidade de estar diante de um ser-rio.

Ficha técnica

Direção: Camila Leichter
Co-direção: Mauro Espíndola
Produção: KINO Moinho
Performance: Camila Leichter, Hannah T. Jones e Marga Noronha
Pesquisa e colaboração: Ana Luiza L. Matte, Cristina T. Ribas e Duo Strangloscope

Camila Leichter (1976), artista pesquisadora, habitante do Moinho da Capivara desde 2014. Doutorado em Poéticas Visuais – UFRGS com a pesquisa campo-contra-campo da experiência, que acontece pelo pensar e fazer-com o corpo e o lugar, entrelaçando proposições audiovisuais, performativas e gráficas a processos permeados pela relação entre terra e memória, envolvendo práticas artísticas, rurais, comunitárias e ambientais, de interdependência e de um espaço de cuidado e coexistência.

Desde 2006, com a formação do grupo Mergulho e a pesquisa em vídeo Estados Temporários (Rumos 2009/2010, Itaú Cultural), colabora com plataformas de produção em artes e com projetos independentes como Passar em Branco de daggi dornelles (ações pelas ruas de Porto Alegre), Transperformance (Oi Futuro/Rio de Janeiro) e Projeto Mário Carneiro Trânsitos (Funarte/Rio de Janeiro). Participa da equipe de montagem na 6ª Bienal do Mercosul, trabalhando nas instalações dos artistas Cildo Meireles, William Kentridge, Sandra Cinto e Francis Alys. Após participação no EIA – Experiência Imersiva Ambiental (São Paulo, 2005) e SPA das Artes (Recife, 2006), participa da organização do projeto SEU – Semana Experimental Urbana (Fumproarte e FAC/Porto Alegre), entre 2010 e 2012, ampliando a pesquisa sobre performance, espaço público e trabalho colaborativo. Em 2010, integra o grupo de estudos de arte latino-americana – SLAAG – TrAIN – University of London e a pesquisa Practicing Space de Beatrice Jarvis, que se desenvolve a partir de performances inspiradas em gestos do cotidiano londrino. Em 2012, participa da Summer School – A Lecture Behind the Screen – no.w.here (Inglaterra) que resulta no filme experimental Metastability. Participa do projeto Technoxamanismo – Ritual Performático de Fabiane M. Borges, que investiga as possibilidades de instauração de um corpo ritual por meio de tecnologias de produção de imagem e som, envolvendo a realização de oficinas e residências, incluindo a produção do filme The Walker no noroeste do Reino Unido, produzida em parceria com a plataforma AND – Abandon Normal Devices. Em 2011, participa da art base association, iniciativa localizada na cidade de Paris, para desenvolver propostas entre desenho e vídeo tendo realizado residências em Luxemburgo e Nancy/França que resultaram em duas instalações: PROCESSO ZERO e PROCESSO ZERO-UM. Em 2012, participa do projeto Hotel Medea na Hayward Gallery, realização da companhia londrina ZU-UK, com performance e documentação audiovisual. Desde 2013 atua, juntamente com os artistas Ali Khodr e Mauro Espíndola, no projeto BLANK, iniciativa da BASE-film, trilogia experimental sobre lapsos de memória e esquecimento, realizada nos lugares de origem dos artistas em conexão com suas histórias pessoais: Berlim (Alemanha, 2013), Damour (Líbano, 2017/18) e Coruripe (Alagoas, em processo), sendo cada filme acompanhado de uma publicação.

A partir de 2014, o processo de trabalho toma forma editorial por meio de Moinho Edições Limitadas, que compartilha em pequenas tiragens uma produção gráfica, imagética e processual das especificidades do habitar e ser habitado pelo lugar, iniciando circulação e difusão de trabalhos com participação em feiras de artes gráficas e de publicações independentes como: Parada Gráfica, Porto Alegre; Paraguay, Buenos Aires; Miolo(s), São Paulo; Feira Sub, Campinas; ReTina, Santa Maria; Impresionante, Santiago do Chile e Microutopias, Montevidéu.

Entre 2017 e 2018, com o audiovisual ensaio a pedra, integra a mostra Ao lado dela, do lado de lá, parte do programa itinerante Audiovisual Sem Destino e, em 2019, a mostra Eu estou aqui agora, na Fundação Vera Chaves Barcelos. Em 2019, durante convivência com os artistas do Duo Strangloscope no Moinho da Capivara, inaugura o projeto KINO Moinho com performance produzida por intermédio de multiprojetores, improvisação sonora e instalação com “sobreimagem”. Entre participações em festivais de cinema experimental, destaca-se o Grande Prêmio Cine Esquema Novo 2019, com o filme A CASA e a estréia do filme A NOITE MAIS LONGA em 2023, durante a 14ª STRANGLOSCOPE – Mostra Internacional de Áudio, Vídeo/Filme & Performance Experimental. Em 2022 integra exposição coletiva Pule antes de olhar (Atelier das Pedras/Porto Alegre) com a instalação ensaio a terra. Participa da edição do livro BLANK Damour e respectiva sessão de lançamento e exibição do filme (Casa de Cultura Mario Quintana/Cinemateca Paulo Amorim/Porto Alegre). Em 2023, a Moinho Edições participa da residência Formigueiro, 8ª edição do Kino Beat e respectiva exposição CÖCÖCÖCÜ (Casa de Cultura Mario Quintana), atuação que se desdobrou em duas oficinas: Mesa Gráfica (CDE, Casa de Cultura Mario Quintana/Porto Alegre, 2023) e Habitat Editorial: como vegetalizar um livro de artista?, realizada no Moinho da Capivara em 2024, com estudantes e professoras da rede de educação da cidade e posterior participação na feira do livro municipal.

Trabalha como artista visual no projeto de educação ambiental e colabora com o Conselho Municipal do Meio Ambiente de Lindolfo Collor, e com o projeto Observando os Rios – Fundação S.O.S. Mata Atlântica.

 

FILMOGRAFIA

Estados Temporários – A ZONA (2009, videoinstalação)
The Walker (2011, 21:44)
PROCESSO-ZERO (2011, 9:20)
corpolugar (2011, 4:00)
Metastability (2012, 25:44)
Mon Desért (2012, 14:47)
BLANK Berlim (2013, 43:00)
A CASA (2015/17, 13:14)
desenho como experiência (2016, 10:53)
ensaio a pedra (2017, 8:17)
BLANK Damour (2018, 28:30)
RUÍNA DA CASA (2015/22, 14:16)
A NOITE MAIS LONGA (2018/22, 19:24)
ensaio a pedra (2023, 5:38)
ensaio a pedra / Dolce far niente (2023, 7:56)
o lugar por onde a água corre (2024, 12:16)

Mauro Espíndola (coautor) (1962), é Doutorando em Poéticas Visuais pelo PPGAV/IA/UFRGS. Elabora pesquisas no campo simulado da ciência, com interesse por questões relativas à memória, identidade, natureza e ambivalências entre real e imaginário. Atualmente vive e trabalha no estúdio instalado no Moinho da Capivara, habitação rural ao norte de Porto Alegre/RS, lugar de heteronímias, fabulações e catalogações pseudocientíficas, onde são concebidos projetos ligados à tríade arte-ciência-natureza. https://orcid.org/0009-0009-1005-9464

FILMOGRAFIA

Redemptor de Sonhos Victal & Sons (2003, 5:47)
Meditações Victal & Sons (2003, 5:18)
Órfãos da Ciência (2004, 4:44)
Comunication Society (2005, 1:58)
4 Stationes (2005, 3:05)
Hologamia (2005, 2:23)
Pedomorphosis (2008, 2:22)
Anatomoxiphopagic Method (2009, 7:15)
Stepchildrenland (2011, 5:45)
BLANK Berlim (2013, 43:00)
A CASA (coautor, 2015/17, 13:14)
BLANK Damour (2018, 28:30)
A NOITE MAIS LONGA (2018/22, 19:24)
ANIMALIS IMAGINIBVS (2022, 2:13)
o lugar por onde a água corre (coautor, 2024, 12:16).

VISÃO DO DIRETOR

Água rolada, ou Captografia
fragmento do texto de Cristina T. Ribas

Quando as águas se levantam mais do que estamos acostumados a ver, elas arrancam as capas que
cobriam as camadas geológicas. Terras de todas as cores são reveladas, transportadas, viajadas.
Barro que persiste, memória da violência das águas, do seu acúmulo, de sua surpresa.

Para entender esses movimentos, e como forma de pintar que não seja orientar o caminho do
pincel, invento uma aquarela de pincel rolado, como a água que rola levando detritos, a terra-fina
e pó-de-pedra, a tinta da aquarela mesmo. Rolar o pincel como quem procura refazer o leito,
daquele contato indelével e de extrema intimidade entre a água e a superfície por ela tocada.
Preencher o papel, como gesto de aceitar que a água chegará onde quiser

Material de Pesquisa
“A análise espacial do Arroio Serraria tem como foco caracterizar o seu entorno e compreender as conexões físicas e ecológicas desde a sua nascente até a foz para ampliar o conhecimento em torno da área, trazer uma abordagem geoespacial para a pesquisa do filme O lugar por onde a água corre, motivada pelos habitantes do Moinho da Capivara. A Figura 1 localiza a área do arroio e do Moinho no RS (A) e América do Sul…. “

 

Para ler o texto completo, clique na imagem ao lado.

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Sobre o Projeto

o lugar por onde a água corre é um filme experimental realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo, que reúne pesquisa colaborativa e produção de arquivo a partir de ensaios audiovisuais com o Arroio Serraria, desde a nascente em Morro Reuter até a foz no Arroio Feitoria, em Lindolfo Collor. Uma trajetória poética de um corpo d’água, suas margens, seres, materialidades, fenômenos e imaginários.

Para ler o texto completo, clique na imagem ao lado.

O lugar por onde a água corre

por | fev 6, 2025 | 0 Comentários

Obra Convidada

Fluxus Fungus (2020), de Tuane Eggers
Sinopse: Nada é estático. Tudo é fluxo. A única constante no mundo parece ser a própria mudança. Fluxus Fungus é uma pequena história sobre transformação e contaminação, tendo os cogumelos como protagonistas de fotografias, em sua maioria, captadas em película 35mm. A obra resulta da pesquisa de mestrado em Poéticas Visuais da artista Tuane Eggers, inspirada pelas reflexões de autores como Anna Tsing, Donna Haraway, Paul Stamets e Peter McCoy. Olhar é, ao mesmo tempo, ser olhada.

 

www.tuaneeggers.com
www.fluxusfungus.com