Curadores: Gustavo Boesing e Laryssa Dias dos Santos

Nesta oportunidade de revisitar e homenagear o acervo da PUCRS, a mostra se inicia com o Retorno da Lua (2006), este que, por sua vez, é uma homenagem à história do cinema: um filme inspirado nas obras de George Meliés. O curta reproduz com primazia técnica os recursos fotográficos e artísticos utilizados no início do cinema, contando a história da busca de um homem por seus filhos, raptados por alienígenas lunáticos. Na lua, os cenários e figurinos são impressionantes, e os artifícios e efeitos utilizados através dos personagens, cuja performance surpreendentemente se equipara aos atores contemporâneos de Meliés, são tão elementares quanto são fantásticos. O real se confunde com o fantástico, pois parece se tratar de imagem de arquivo, não fosse a narração.

A homenagem à história do cinema também é o fio condutor na próxima obra, mas agora ao próprio acervo da PUCRS. Como Enfrentar os Desafios da Vida Moderna (2005) é a primeira (e mais antiga) obra que consta no acervo, e se contrapõe ao filme anterior na sua seriedade. A rebeldia é substituída pela crueza da realidade, pelo menos sob uma das perspectivas. Inicialmente centrada em um trabalhador, que se muda de Santa Maria a Porto Alegre em busca de uma vida melhor, ele reflete sobre a solidão na capital e a insatisfação com a vida adulta, ante as suas promessas infundadas. A “antiguidade” da obra é irônica, dada a sua notável atualidade. No entanto, a perspectiva pessimista do protagonista é contrastada com outras visões dissonantes, consonantes ou divergentes. Não há só uma forma de enfrentar os desafios, e, nessa pluralidade, há esperança.

A obra mais antiga é contrastada por outra obra recentíssima do acervo. Concha de Água Doce (2021) também apresenta um desafio da vida moderna, todavia, abordando temas mais contemporâneos ainda. Neste caso, o movimento é inverso: a protagonista vai da capital ao interior. Ariel retorna à sua cidade natal no litoral com uma nova identidade de gênero, e tem de lidar com os sentimentos no seu reencontro com a irmã mais nova. Os conflitos existentes no passado e na atualidade são diferentes, mas compatíveis: a demanda por compreensão e acolhimento.

Por fim, Roda gigante (2012), tal qual o título, volta ao início. Inicia-se com uma discussão metalinguística sobre os filmes, que, ao fim, é sobre o próprio curta. A obra contempla um único e ambicioso plano sequência que segue quatro núcleos de personagens: um casal que conversa sobre o filme que assistiram; uma filha que é impedida de comer algodão-doce pela mãe; um trio de amigos que discute sobre seus interesses; e um palhaço traficante. O acervo, afinal, é esta multiplicidade de histórias, unidas em um lugar só (neste caso, literalmente em um único plano), que, conjuntamente, conta uma história só.

Os cinco curtas são propositalmente contrastantes entre si, buscando refletir a multiplicidade e riqueza do conteúdo produzido na PUCRS: a preocupação técnica; a rebeldia ambiciosa; a brutalidade do cotidiano; a sensibilidade da realidade; o antigo e o novo; o estranho e o convencional; o pouco e o muito. Estas histórias são contadas das perspectivas dos diversos alunos da PUCRS, e, inevitavelmente, retratam Porto Alegre através de três décadas nos 20 anos de curso. Tais obras são, na sua própria forma, reverentes à história da arte do cinema, e tal reverência deve ser estendida a estas próprias obras, que compõem o acervo valioso da universidade, da qual eu e meus colegas fazemos parte.