UFRGS

Curadores: Beatriz Martini, Isabella Damaceno e Luís Hofmeister

O tensionamento da própria mídia filmada é um preceito da videoarte desde sua gênese, na década de 1960. Sua atualização está diretamente ligada à constante evolução tecnológica e aos movimentos do cinema, tanto enquanto meio artístico quanto indústria que carrega, em seus produtos, ideias e valores. Já há décadas, mas de maneira renovada desde a pandemia de COVID-19, nossas vidas são constantemente atravessadas por uma enxurrada midiática, da publicidade à cobertura jornalística aos virais nas redes sociais; assim sendo, a presente seleção visa ressaltar a produção em videoarte de jovens artistas vinculados ao Instituto de Artes da UFRGS desde 2020, ano indiscutivelmente fulcral na história recente.

São trabalhos que, de certa forma, carregam consigo a tocha da origem da videoarte. Primordialmente pouco ou não-narrativos, encontram-se mais no plano da fruição sensível de imagens e sons do que na satisfação da jornada de um herói. Tensionam a naturalidade da passagem do tempo, conduzindo cérebros viciados em estímulos constantes à contemplação. Questionam o espaço pretensamente neutralizante da sala de cinema ao nos olharem de volta. Forçam-nos a não procurar uma história. Muito mais do que uma unidade temática, o que os une é a experiência diante dos mesmos – algo inenarrável, concebível apenas por sons e imagens. Tudo o que o cinema é.

Obras selecionadas

A classificação indicativa foi determinada considerando a obra com a maior restrição entre as selecionadas deste programa.

A Tempestade, de Riel Company, Camilla Rutsatz, Camila Durante, Célia Trevisan, Erika Chaves, Isabel Schmitt, Leonardo Freitas, Natasha Boaventura e Pedro Salah, 2024, 03min, UFRGS.

Sinopse: A Tempestade mergulha na complexidade da obra homônima, originalmente escrita por William Shakespeare, explorando suas dimensões simbólicas. Através de manifestações corporais e um jogo entre os elementos água e vento, o vídeo busca dar corpo à violência da tempestade descrita na peça refletindo sua força transformadora e purificadora. A tempestade, aqui, não é apenas um evento natural, mas uma metáfora para a desconstrução de estruturas e relações, trazendo à tona as vulnerabilidades humanas e a complexidade da reconciliação, refletindo sua presença na dramaturgia de Shakespeare. O vídeo convida o espectador a sentir e refletir sobre a tempestade como força disruptiva e restauradora.

Ainda sei respirar?, de Alex Domingues, 2024, 01min, UFRGS.

Sinopse: Três anos após as sequelas do covid 19, artista respira por um minuto inteiro.

Apenas dois minutos?, de Alex Domingues, 2023, 02min, UFRGS.

Sinopse: Um vídeo de dois minutos em looping que demonstra um relógio instável que funciona de maneira imprevisível, alternando a velocidade dos ponteiros e o seu sentido de giro, pondo em cheque a nossa necessidade obsessiva de controlar o fluxo do tempo.

Até quando teremos lar?, de Alex Domingues, 2024, 02min, UFRGS.

Sinopse: Artista visita a rua da casa onde cresceu, tomada pela água.

Há alguém aí?, de Alex Domingues, 2024, 02min, UFRGS.

Sinopse: Texto em tela simula um diálogo com o telespectador sobre questões existenciais, afetando a sua percepção do tempo e a capacidade de atenção.

Lapsos, de Virgínia Di Lauro, 2022, 07min, UFRGS.

Sinopse: O vídeo Lapsos, é composto por ruídos captados do entorno e da oralidade, frames que se distorcem e gestos. Vídeo poesia performance experimental, onde a palavra falada complementa a imagem, os cortes, o percorrer dos acontecimentos. O vídeo desdobra questões de distanciamentos, de relações, de afetos e esperas, qualquer coisa como o desejo de esquecer algum mal acontecimento, onde não há como, pois a memória é coisa viva na gente.

Não deu tempo, de Gabriela Bittencourt, 2022, 07min, UFRGS.

Sinopse: Através da questão “o que não deu tempo?”, 36 pessoas revelam espontânea e cruamente momentos que vão e talvez nunca mais voltem.

Sábado de Aleluia, de Leonardo Miguel, 2024, 03min, UFRGS.

Sinopse: Às vésperas do feriado de Páscoa, o barulho, a bagunça e o agitado fluxo de pessoas no Mercado Público de Porto Alegre anunciam os preparativos da população para as reuniões familiares.

Sensorial, de Natalia Schul, 2022, 04min, UFRGS.

Sinopse: Neste vídeo realizo a ação de interagir com um balão. São três presenças, a minha, do objeto e da câmera. Proponho me deixar afetar por ambos, pela superfície sensorial do balão e pela captação da lente. Me movo ao redor da câmera e coloco meu corpo em contato com o plástico, que nessa interação se parece com uma parte de um corpo em si, como um olho ou outro material, como água. Ação com sentido em si, na experimentação.

Sertão: Intimidade e Imensidão, de Poliana Lima e Bruno Soares, 2021, 06min, UFRGS.

Sinopse: “Uma recriação audiovisual do livro “Grande Sertão: Veredas” de Guimarães Rosa. O narrador-personagem Riobaldo reflete sobre a sua história através de vozes jovens, velhas, masculinas e femininas que representam a complexidade de sua existência. Sempre envolto nos sons e imagens que compõem a paisagem sonora do interior rural de Minas Gerais.

Sonhei que atravessava um espelho como se fosse água, de Kahena Sartore, 2022, 05min, UFRGS.

Sinopse: Entre pedaços de cotidiano se inserem imagens imersivas que capturam a suavidade e estranheza de um sonho. Em um compilado de cenas capturadas ao longo de três anos, o tempo se torna incompreensível, confuso e embaralhado. Ilusões e reflexos se confundem e se fundem. Uma mulher se representa em suas dores e tentativa de quebra do que dela se espera. Em sua não linearidade, o vídeo almeja criar uma narrativa em que realidade e fantasias mentais chegam num ponto de indiscernibilidade.

Video Play, Date, de Helena Pavan e Isabela Luft, 2023, 03min, UFRGS.

Sinopse: Duas mulheres montam um circuito de diferentes tipos de câmeras e dispositivos de reprodução de vídeo e interagem entre si, projetando suas imagens em diversas telas simultaneamente. Ao mesmo tempo em que nenhuma ação definida ou específica é realizada pelas personagens além da exploração do sistema de vigilância construído em si, a própria ação de observarem e serem observadas pelos dispositivos tecnológicos e seus atravessamentos é posta em discussão. Sobre a relação entre homem e máquina, a ampliação da escultura, as tecnologias contemporâneas de selfie e redes sociais e as políticas da imagem na datosfera.