Curadores: Eric Pauli, Maju Stumpf, Raphaela Serafim e Valentina Collares

De que forma a arte se expressa além das palavras? O silêncio, apesar de representar a ausência de som, é em si mesmo uma forma de comunicar. O silêncio pode ser sereno, agitado, feroz, curioso, paciente. Na busca por filmes que conversassem com a identidade do Cine Esquema Novo, o estado de espírito dos quatro curadores foi guiado para quatro obras que, divergentes em conteúdo e gênero, exprimem as múltiplas facetas do silêncio. Tudo Somos Imagem, de 2009, expõe um silêncio elétrico no frenesi urbano que evidencia o poder da visualidade e deflagra o corpo pulsante da cidade. Alfinete, de 2011, subtraído das cores do primeiro curta, coloca um silêncio impaciente que revela a angústia contida no apartamento do protagonista. Onde Tudo Somos Imagem é expansivo, Alfinete é enclausurado. Já Sob A Pele de Vênus, de 2014, concentra-se no silêncio íntimo de uma mulher que, lentamente, cresce além de sua própria pele e solidão. A falta de diálogo suscita perguntas em uma ambientação inquietante que quase lembra um sonho. A atmosfera onírica intensifica-se, então, em Bruxa de Fábrica, curta também de 2014 que acompanha ainda outra personagem solitária atravessando um silêncio torvo, um limiar entre a realidade e o devaneio.

Nas telas do Cine Esquema Novo, o silêncio e a solidão expressos por uma pluralidade de linguagens caminham juntos, delineando uma fatia dos primeiros 10 anos de produções do CRAV. O recorte temporal, temático e de linguagem que escolhemos aplicar sobre o acervo de duas décadas do curso foi preciso e nada ocasional. Colocamos, também, uma lente sobre um problema ainda muito novo, que é o armazenamento de arquivos digitais. Dentro do cinema, a preservação desses bens é incerta e insegura devido ao desenvolvimento constante de novas tecnologias – e nesses mais de vinte anos, os próprios alunos acompanharam em tempo real as mudanças do mundo digital. Ao realizar a curadoria, entramos em contato pela primeira vez com o acervo do nosso curso, um acervo extenso e complexo, de difícil acesso, que nos chamou atenção para a importância da preservação. A partir da pesquisa, encontramos uma certa urgência de valorizar aqueles que vieram antes de nós, servindo como um lembrete de que o cinema não tem, e nem deve, ter data de validade.